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sábado, 24 de março de 2012

Em busca da relação perfeita. Um tratado sobre a transmissão da sua 29 .

Quando ainda pedalava a minha primeira 29er, uma Felt Nine Pro, iniciei uma série de posts intitulada "Em busca da relação perfeita". Buscava na ocasião encontrar a transmissão ideal e mais adequada às novas mountain bikes equipadas com rodas grandes. Durante minha procura cheguei até a provar uma coroa pequena de 20 dentes no pedivela, contudo não pude chegar a um veredito propriamente dito. Restaram algumas constatações interessantes, mas ficava claro que a tecnologia das transmissões ainda precisava evoluir e nos oferecer novas opções e soluções.



Os anos se sucederam e a participação das 29ers no mercado cresceu de maneira exponencial, convertendo o formato quase que numa unanimidade quando o assunto são as “hardtails”, mountain bikes de traseira rígida ou rabo-duro em tradução literal. Em termos de suspensão integral, com a concepção de novos modelos e componentes mais leves, o aro 29 também avança firme, tanto no terreno das full-suspensions de XC, quanto no das versáteis trailbikes, seguindo ainda ao encontro de sua última fronteira, as bikes de downhill. Tudo muito gratificante para nós que sempre apostamos nas rodonas, também para você, leitor assíduo do P29BR.
Costumo, agora que o tempo passou, bater numa mesma tecla sempre que questionado a respeito do que acredito. Afirmo sem medo de errar que uma mountain bike de traseira rígida e rodas de 29 polegadas não perde em absolutamente nenhum quesito para outra similar equipada com as tradicionais rodas de 26 polegadas, em grande parte das situações a 29er é francamente superior e em poucas outras se comporta, no mínimo, da mesma forma, nunca pior. Como chegamos lá? Sem dúvida com tecnologia.
Convencidos da supremacia das rodonas, podemos outra vez focar no tema das transmissões que igualmente evoluíram de forma a tornar muito mais gratificante nossa experiência a bordo de uma 29er. Nos últimos quatro anos, novos grupos, pedivelas, cassettes, câmbios e correntes se multiplicaram. O advento da linha XX da SRAM foi a faísca que incendiou o mercado e fez a arqui concorrente Shimano deixar a zona de conforto. Essa bem vinda “batalha” estimulou a inovação e o consequente advento de diversos padrões e relações. Você pode agora simplesmente escolher entre pedalar com uma transmissão de 30, 20 ou mesmo de 10 velocidades, dependendo, entre outras variáveis, da sua condição física, do peso da sua bike e do terreno onde costuma rodar.
Há algum tempo eu guardava uma matéria pronta confrontando as transmissões entre as mountain bikes aro 29” e aro 26”. Esse meu texto, em particular, era o resultado de muitos cálculos matemáticos comparando a distância percorrida em uma rotação de pedivela para cada uma das marchas em cada um dos tipos de transmissões e tamanhos de rodas. Nunca cheguei a publicar isso por conta da complexidade envolvida e por acreditar que o sucesso das boas 29ers reside justamente no fato de que os principais players do mercado encararam o formato como algo completamente novo, não apenas como uma adaptação do antigo padrão de bicicletas equipadas com rodas de 26 polegadas. O mesmo vale para as transmissões. Por mais que se possa comprovar que numericamente um grupo instalado numa 29er seja pouco mais de 10% mais “pesado” que o mesmo conjunto montado numa 26er, na prática as melhores opções que temos hoje em termos de relação contrariam a lógica numérica e estão longe de serem uma adaptação do que antes existia.

Três é demais?

Em 2010, numa reação ao sucesso do sistema de 20 velocidades da SRAM, a Shimano apresentou o Dynasys. Ao contrário do que se imaginava, a gigante japonesa não abandonou as coroas triplas, mas sim acrescentou uma velocidade ao seus cassettes, que passariam a contar com um pinhão maior com 36 dentes. Já nos pedivelas a diferença no número de dentes entre a coroa grande e a pequena foi diminuída. A Shimano entendeu que uma coroa maior com 42 dentes seria mais útil em comparação aos 44 anteriormente utilizados, permitindo ao piloto se manter mais tempo nessa coroa grande, bem como avaliou que a coroa menor com 24 dentes resultaria em menos perda de energia nas subidas fortes, devido a uma redução de 10% na tensão da corrente, finalmente os japoneses chegaram à conclusão que mesmo com o aumento no número de dentes na coroa pequena, o desempenho do conjunto seria superior, haveria um melhor aproveitamento de energia e as trocas na dianteira aconteceriam de forma mais rápida e eficiente. Tudo isso, na prática, faz todo sentido, porém imagino que primordialmente essas novas relações foram definidas com base nas mountain bikes aro 26 polegadas.
E para o aro 29? A transmissão de 30 velocidades da Shimano de fato apresenta uma faixa maior de marchas utilizáveis. Na prática, a combinação coroa de 24 dentes e pinhão do cassette de 36, apesar de 15% mais “pesada” numa 29er em relação ao antigo padrão de coroa 22 e pinhão 34 há muito empregado nas mountain bikes aro 26 polegadas, surpreendentemente funciona bem e dá conta do recado. O segredo para vencer as subidas mais longas com as rodas grandes é encontrar uma cadência confortável e seguir girando, algo que com o tempo se torna automático e até prazeroso. Como “nossas” rodas são maiores, perdemos menos energia nas ondulações do terreno e pequenos obstáculos, assim a coroa de 24 dentes aparece, a meu ver, como a melhor solução no mercado em termos de limite inferior. Lembro que as rodas maiores potencializam a tração em função da maior área de contato dos pneus com o solo, permitindo ao piloto de uma 29er pedalar de pé em uma marcha mais pesada em trechos onde as rodas de 26 polegadas já estariam patinando. Na ponta de cima da equação, quem pedala uma bike aro 29” sente menos falta ainda da coroa de 44 dentes e pode tranquilamente se dar ao luxo de experimentar com números ainda bem menores que 42.

Um “velho conhecido” dos leitores do P29BR, o cassette HG-61 de 9 velocidades e pinhão maior com 36 dentes, já fazia sucesso entre os proprietários de 29ers antes mesmo do advento da tecnologia Dynasys para os grupos da Shimano. O HG-61 se mantém até hoje muito popular entre os aficionados das rodonas. Por isso, se eventualmente sua transmissão ainda é de 27 velocidades, em princípio não há qualquer necessidade de sair correndo atrás de um upgrade além desse sempre recomendado cassette 12-36. Um sistema de 30 velocidades parece atraente num primeiro momento, contudo analisado com mais profundidade, pode apresentar algumas desvantagens consideráveis, entre elas o fato de levar ao limite o câmbio traseiro e a corrente, sem contar que certos cruzamentos de marchas não são recomendáveis. Por fim, tomando de volta a planilha de cálculos e avaliando as relações numéricas entre coroas, pinhões e a distância percorrida em cada pedalada, o fato é que numa transmissão de 30 velocidades de 6 a 8 marchas podem ser consideradas como “repetidas”. Com a combinação 3x10 mais é menos.

Uma é pouco?

No outro extremo das possibilidades estão as transmissões de 10 velocidades, ou seja, aquelas que prescindem do câmbio dianteiro. Nesses casos, a vantagem em termos de peso é evidente, vito que estão dispensados também o trocador dianteiro, conduítes, cabos e duas coroas no pedivela. Por outro lado, esse tipo de montagem pede o uso de uma guia de corrente como a ótima Chain Keeper da marca Paul Component Engineering ou uma combinação de bashguard mais um dispositivo que evite a queda da corrente em direção à concha do movimento central como o simples e eficiente Jump Stop da N-Gear.


Jeremy Horgan-Kobelsky venceu o Campeonato Americano pedalando uma Trek Superfly montada com uma transmissão 1x10. Essa informação pode animar você, leitor do P29BR, a provar tal combinação, contudo por experiência própria, aviso desde já que as coisas não são assim tão simples, ou melhor, leves. JHK escolheu uma coroa de 36 dentes e o cassette “peso pena” SRAM XX 11-36, o que seria exagerado para os simples ciclistas mortais em condições de subida mais forte. Como se trata de uma 29er, nas descidas a coroa única de 36 dentes chega a ser suficiente para garantir um bom desempenho. Apenas por curiosidade, lembro que muitos profissionais do DH, ainda correndo de aro 26, não fazem questão de uma coroa maior que essa.
A combinação 1x10 funciona bem para competidores em ótima forma, apenas em alguns trechos específicos e, fundamentalmente, com bikes leves.

Dois é bom! Um pouco da minha experiência pessoal.

Depois de muito provar os mais diversos sistemas de transmissão com combinações variando entre 27, 30, 9 ou 10 velocidades, chegou finalmente a hora de migrar para um pedivela de coroas duplas. Vasculhei o mercado internacional em busca da melhor opção. Considerei como fatores de decisão para compra do meu primeiro pedivela duplo, a relação numérica entre as coroas, o peso do conjunto pedivela/central , qualidade construtiva e, logicamente, o preço. Quando realizei a aquisição, a opção que melhor equacionou essas variáveis foi o modelo Comet da FSA, com coroas de 39 e 27 dentes.
O pedivela Comet pode ser enquadrado na mesma categoria de um Deore, por isso utilizei o modelo da Shimano como referência na hora de comparar os pesos. O pedivela Shimano Deore de eixo passante e coroa tripla pesou 858 gramas, enquanto que o Comet de dupla coroa 840 gramas, já o central da marca japonesa chega a 97 gramas, o Megaexo da FSA está na casa dos 101 gramas. Com a troca do pedivela o peso total da bike baixou pouco, mais precisamente 14 gramas, contudo a maior vantagem ficaria reservada para o desempenho propriamente dito, ainda que se optasse por um pedivela top de linha, essa economia de peso poderia ser bem maior, alcançando aproximadamente 150 gramas.
Inicialmente não se faz necessária a substituição dos trocadores, entretanto para um funcionamento perfeito do conjunto de transmissão, é aconselhável escolher um câmbio dianteiro específico para operar com pedivelas de coroas duplas.
Um dos muitos benefícios que as coroas duplas podem agregar à sua 29er é uma melhoria dramática no chamado “chainline”, ou “linha de corrente” em português. No mundo ideal, uma corrente deveria trabalhar 100% alinhada com a coroa do pedivela e o pinhão do cassette que hipoteticamente estariam posicionados num mesmo plano. Claro que na realidade isso não ocorre, ainda assim, com numa transmissão 2x10 a corrente vai fletir muito menos em comparação ao que ocorreria com um sistema 3x10, o que na prática garante trocas muito mais precisas e ainda permite ao piloto explorar todas as 20 marchas disponíveis, ou seja, numa transmissão de 20 velocidades menos é mais.
Hoje as principais marcas do segmento partem de alguns preceitos no instante de projetar seus novos modelos de 29ers, um deles dita que os chain stays devem apresentar o menor comprimento possível, o que eventualmente pode comprometer o funcionamento do câmbio dianteiro, como consequência faz todo o sentido escolher sistemas de transmissão de 20 marchas para essas bikes. Com o emprego de um pedivela duplo, o câmbio dianteiro pode ser mais compacto, operando sem dificuldades com uma menor amplitude de movimento, logo sobra espaço para um pneu traseiro até 10mm mais largo.
Em termos de números, a abordagem tem que ser muito mais prática do que teórica. Num primeiro momento pode-se imaginar que faltam as marchas pesadas, bem com as leves. Na parte de cima, as rodas grandes compensam a coroa com menos dentes, por isso 39 são mais que suficientes, além disso o piloto se mantém muito mais tempo pedalando na coroa grande. Por outro lado, uma coroa de 27 dentes pode ser pesada demais e dificultar nas subidas mais íngremes. No meu caso levei em consideração o fato de que pedalo uma bike relativamente leve e não mais que 5% dos meus treinos é feito em rampas com inclinação realmente altas, ainda assim 27 dentes na coroa pequena fazem mais sentido para o biker que compete e tem bom condicionamento.
Desde então, testei algumas dezenas de 29ers equipadas com transmissões de 20 velocidades tanto da SRAM e quanto da própria Shimano, que depois de um começo titubeante, aderiu também às coroas duplas.

Então, para você o que seria melhor, 30, 20 ou 10 marchas?

Não existem regras estabelecidas para que você escolha a transmissão da sua 29er, entretanto minhas muitas experiências anteriores me permitiram chegar a algumas considerações interessantes a respeito do assunto. 
A meu ver, por conta de todos os benefícios técnicos e funcionais que oferece, atualmente uma transmissão de 20 velocidades é a mais adequada às mountain bikes equipadas com rodas de 29 polegadas. Depois muitos meses de experimentação, avalio que a combinação de coroas ideal para o XC estaria em um pedivela 38-24, montado em conjunto, é claro, com um cassette de pinhão maior com 36 dentes. Com essa configuração, o piloto poderá tirar proveito de todas as 20 marchas disponíveis na bike. Como as coroas são otimizadas para mover lateralmente a corrente em apenas um sentido, além do fato do câmbio dianteiro ser mais compacto e funcionar com uma amplitude menor de movimento, o resultado são trocas muito mais naturais e eficientes.
A relação 2x10 dá ao projetista a condição de trabalhar com chain stays mais curtos, o que afeta positivamente o desempenho e a capacidade de aceleração de uma 29er. A coroa maior será mais bem aproveitada no sistema de 20 velocidades e o fato dos pneus de 29 polegadas apresentarem uma área de contato com o solo aumentada, permite, quando necessário, que se pedale de pé sem perder tração, o que faz toda diferença nas subidas curtas. Para completar, você terá mais espaço - e liberdade - para a escolha de um pneu traseiro para sua bike.
Se eventualmente pensar em competir num short track em terreno pouco acidentado, 10 velocidades podem ser até suficientes. Caso seja proprietário de um modelo com suspensão integral e curso um pouco maior, uma trailbike, pode então fazer algum sentido pensar em optar por 30 velocidades, ainda que, posso garantir, 20 dariam conta do recado perfeitamente.
Acredito que a esta altura já tem muito leitor preocupado porque ainda usa um cassette de 9 velocidades. Meu conselho? Segure a carteira. Não existe uma necessidade imediata em correr para a loja para comprar outro de 10 velocidades, que fatalmente teria que vir acompanhado de novos trocadores e corrente, sem contar um novo câmbio traseiro. Nada te impede de montar um pedivela duplo na sua 29er e aproveitar seu cassette antigo. Por outro lado, imagino que já tem gente pensando em deixar apenas duas coroas no seu atual pedivela triplo. Adianto que não é a mesma coisa que optar por um pedivela duplo “de verdade”. Com o pedivela triplo adaptado para duplo, o “chainline” não será tão eficiente, sem contar que o câmbio dianteiro continuar a limitar a escolha do seu pneu traseiro.
A partir de agora espero que os blog-leitores do P29BR e suas 29ers possam mais facilmente desfrutar de uma “relação perfeita” e vivam felizes para sempre...pelos menos até que novos e atraentes grupos os separem.

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